Olá! Bem-vindas ao meu novo espaço!
O primeiro texto que pensei em escrever é sobre um assunto muito importante – e quem me conhece sabe o quanto isso foi significativo para mim: exames de rotina.
Primeiro vou contar a minha experiência pessoal…
O ano de 2020 já iniciou cheio de surpresas… Um dia, minha amiga de infância me liga contando que foi na dermatologista que indiquei e tinha tirado uma pinta suspeita. O resultado veio um melanoma… Super pequeno, mas que seria necessário ampliar a margem.
Depois de alguns dias, essa mesma amiga me liga novamente comentando que sua mãe estava com uma mamografia alterada e que na biópsia também tinha encontrado um câncer inicial.
Eu, na posição de médica e amiga, conversei muito, acalmei e falei sobre a excelente evolução, visto que os dois tinham sido encontrados no começo.
Depois de umas semanas fui fazer os meus exames de rotina, sendo que os últimos foram os ultrassons. Quinta-feira antes do carnaval, começamos pelo US de tireóide… Notei que o médico estava demorando um pouco a mais do que o normal; viu todo o meu pescoço, ligou o doppler (que vê o fluxo sanguíneo) e me disse que eu estava com um nódulo… Ainda perguntei: “ah é só acompanhar, né?”; e ele: “é… e talvez fazer uma biópsia…”.
Tive vontade de perguntar mais sobre o tal nódulo, mas sabia que iria ultrapassar um pouco do trabalho do radiologista – normalmente eles não são os responsáveis por falar do resultado… Fiquei tensa, mas tentei esquecer um pouco e fui trabalhar.
Chegando em casa, abri o resultado do exame e lá estava ele: um nódulo TIRADS 5 com várias características de malignidade. Chorei… e nessa hora voltei a um estado que já não estava mais acostumada: ser a paciente.
Esqueci toda a calma que tento passar para minhas pacientes, tentei lembrar do que tinha aprendido sobre nódulos de tireoide, mas não vinha nada na cabeça. Aí lembrei que outra amiga de faculdade também estava acompanhando um nódulo na tireoide.
Já liguei para ela para saber como seriam os próximos passos, como tinha sido a experiência dela e consegui me acalmar um pouco! O dela também era um nódulo suspeito. Ela fez a biópsia e não era câncer. Pedi para outra amiga radiologista dar uma olhada nas imagens e ela também me acalmou, mas que era para fazer a biópsia mesmo. Minha vontade era fazer o quanto antes essa biópsia – particularmente sou um pouco ansiosa! Mas não consegui para o dia seguinte e depois já era o carnaval… Bom, paciência, vamos marcar para depois então.
Durante o carnaval eu consegui me divertir um pouco, mas não tem como não pensar que poderia estar com um câncer… Ainda fomos em um grupo de médicos, então virava e mexia estávamos comentando sobre isso. Um dos médicos, inclusive, é oncologista, então tive basicamente uma aula de tumores de tireoide! Mas por mais que seja um tumor super tranquilo, dá medo…
Enfim, quarta-feira de cinzas eu e meu marido chegamos em São Paulo e fomos direto para o Laboratório para fazer a biópsia. Foi bem tranquilo e pedi para tentar priorizar o resultado, pois estava com uma cirurgia de adenoide marcada para sábado, e dependendo do resultado, iria cancelar a cirurgia.
Na quinta, exatamente uma semana depois do US, cheguei em casa depois do trabalho e fui ver se tinha saído o resultado… Era um carcinoma papilífero. Já vem um monte de coisas na cabeça, por exemplo: com quem vou operar? Quero operar logo! O que vou fazer com meu trabalho? Deitei no sofá, chorei, mas menos do que na semana anterior (acho que estava esperando)…
Meu marido chegou, contei para ele… é difícil, mas somos cirurgiões (que costumam ser muito práticos) e falamos: “ah… vamos ter que tirar a tireoide e pronto”. Nesse dia, meus pais estavam aqui em São Paulo, contamos para eles, passamos a tranquilidade que um médico tem que passar, só que no fundo os sentimentos estavam bem bagunçados…
Na sexta já marquei consulta com uma cirurgiã de cabeça e pescoço e pronto, vamos fazer a tireoidectomia total no sábado seguinte. Durante a semana trabalhei todos os dias – o que foi bom para distrair um pouco, mas cada US de tireóide que eu checava me dava aquele apertinho no coração… Foi uma semana boa, recebi muita atenção e carinho do meu marido, da minha família e amigos, mas toda noite antes de dormir, mesmo sem saber por que, dava aquela choradinha…
Chegou o dia e a equipe que escolhi não poderia ter sido melhor! Cheguei no hospital e quem me recebeu foi a Paula, amiga com que morei a graduação toda e que ia me anestesiar. Isso é realmente um privilégio do médico: a equipe toda era formada por excelentes profissionais e amigos e, inclusive, a Paula, Germana e Laura foram minhas madrinhas de casamento =).
Correu tudo bem e acabei fazendo a cirurgia da adenoide junto – a Laurinha foi trocar meu DIU (depois posto um texto sobre métodos anticoncepcionais com experiências pessoais). Estou escrevendo esse texto após uma semana da cirurgia e graças a Deus estou ótima, já voltei na Dra Bárbara – que fez a minha tireoidectomia – e, a princípio, estou curada!
Vida quase normal. Foi tudo muito rápido e ainda estou tentando entender as minhas emoções, o que isso deve influenciar na minha vida daqui para frente, mas me sinto muito grata a tudo: a Deus, as pessoas que me rodeiam, a minha vida em geral! Entendo que foi muita “sorte” ter encontrado o tumor de estágio super inicial (um pouco de fé e um pouco de Ciência não fazem mal a ninguém, né?).
Enfim, toda essa história para ilustrar o quanto é importante fazer os exames de rotina! Três mulheres com histórias diferentes, mas uma coisa em comum: câncer inicial encontrado na rotina, curados com tratamentos pouco agressivos.
Então, amoras, não esperem sentir alguma coisa para fazer seus exames, se cuidem! O ginecologista acaba sendo o grande “triador” da mulher, porque é o médico que ela acaba indo todo ano, então é quem pede os todos os exames.
Essas histórias têm o câncer como agente principal, mas a consulta anual é importante não só para diagnosticar doenças, mas também para tirar algumas dúvidas do dia a dia, talvez trocar o método anticoncecpcional que não está mais encaixando na rotina…
São inúmeras questões que acabam aparecendo quando se vai ao médico, talvez porque é um momento em que prestamos atenção em nós mesmas… Várias vezes estamos atentas no trabalho, em casa, nos filhos, e não é costume tirar um tempo para pensar na gente.
Então, não deixem de se olhar, de se cuidar! A saúde (no amplo espectro da palavra) é o nosso bem mais precioso!
Com carinho,
Mirella
2 respostas
Lindo testemunho! Inspirador e sensível, como você ! ♥️ Parabéns pela iniciativa!
A Mirella sempre foi diferenciada. Boa aluna, inteligente, observadora, atenciosa e hoje em especial como médica ela é tudo isso e ainda acolhedora. Se comunica bem de forma simples e clara, transmite seu recado, toca nosso coração e nos passa toda a confiança que precisamos em cada momento. Muita sorte de quem pode ter ela por perto! Esse texto e site traduz a boa formação e capacidade que ela tem além do ser humano maravilhoso que é!